Os Espinhos que Impedem as Rosas do Sistema de Saúde de Porto Amboim Florescerem









Por Katssekya Samuel
 A minha vida divide-se entre Luanda e Porto Amboim, porque respondo pela área de saúde mental da Clinica Sagrada Esperança de Porto Amboim. Desloco-me há quase quatro anos para aquela terra linda para prestar serviços de psicologia às famílias, a comunidade local e às empresas, quer através de palestra quer por meio de consultas, quer por campanhas de rastreio de saúde mental…. etc, etc, e etc.  Por outras palavras, dedico-me  a fazer com que as pessoas descubram  as  suas  capacidades cognitivas e emocionais  de modos  a soltarem” o gigante “que há dentro delas.   Esta descoberta permitirá, por sua vez, que os sujeitos assumam o controlo de suas próprias vidas adoptando um estilo de vida mais saudável. Por outro lado, o governo também pode ser uma rede formal de apoio através de políticas sociais para a melhoria da saúde em geral das famílias. É com base nesta abordagem que viajaremos um pouco mais para aquele município do Kwanza Sul.
  Porto Amboim é uma vila do litoral muito próxima de Luanda. Fica a duzentos e cinquenta quilómetros da nossa capital, aproximadamente, três horas de viagem. O mar altivo cheio de barcos de vários tipos, a paisagem e o pôr- de sol que fica prostrado no horizonte, constituem o cartão-de-visita daquela que poderia ser o destino de férias de muitas pessoas. Aquele município cheira mar e peixe. É uma zona com um grande potencial turístico, que poderia ser aproveitada como segunda moradia, tal como acontece na Costa de Caparica, em Portugal.
 Porto Amboim era outrora considerada um núcleo piscatório de grande peso para o nosso país. Hoje, infelizmente, esse fluxo piscatório pertence simplesmente ao passado por falta de recursos e pelo mau exercício da actividade por parte de alguns pescadores.
Apesar destes encantos naturais, podemos dizer que é um paraíso perdido que não está na “memória” de muitos governantes. E este comportamento é bem visível quando olhamos para a saúde das famílias e das comunidades daquele município caído no esquecimento. A única coisa que se faz sentir em Porto Amboim é o ar do silêncio das autoridades locais. Silêncio este que tem contribuído para degradação da rede de saúde.
 No que diz respeito a saúde, Porto Amboim tem dois hospitais públicos: um hospital geral e um Centro Materno Infantil. Conta também com parceiros privados na área da saúde como a Clínica Sagrada Esperança de Porto Amboim e a Clínigrupo. O edifício do Hospital Geral é de 1940 e precisa de obra, pois está degradar-se largamente. Infelizmente, o Centro Materno Infantil, tem acessos dificultados especialmente quando chove devido a estradas intransitáveis. Quer dizer que muitas famílias ficam sem assistência de saúde e aumentado o risco de complicações e morte. Pelas nossas observações, conjecturamos que há falta de medicamentos e consumíveis e de técnicos de saúde quer no Centro Materno Infantil quer no Hospital Geral.
 Podemos destacar que as enfermidades que mais afetam as famílias aquela vila são: malaria, febre tifóide e as doenças provocadas por acidentes de viação.
 É importante frisar que a saúde é constituída por variáveis física, mental e social. Quando falamos em saúde, devemos olhar para ela numa perspectiva global. A saúde não é só ausência de doença. Partindo destes pressupostos, notamos que neste momento, aquele município regista uma taxa de desemprego gritante, não há sistema de água potável a funcionar, continua sem energia eléctrica em largas áreas sub-urbanas, as ruas estão cheias de lixos e as estradas esburacadas. É relevante a má qualidade de alimentação das famílias, devido ao nível de pobreza. Um outro aspecto que   influenciado na saúde é desertificação da vila porque as pessoas não vêm as suas vidas a melhorar. E isto tem afastado bons profissionais de saúde e de outras áreas a instalarem-se em Porto Amboim. Falamos de falta de saúde quando o desemprego transforma as vidas dos indivíduos num verdadeiro tormento para quem tem filhos para sustentar, principalmente em idade escolar. É falta de saúde quando a população não tem espaços verdes para lazer, enfrenta grandes problemas financeiros e de habitação. Esses elementos, irão constituir factores risco para o surgimento de doenças, quer físicas quer psicológicas.
Indubitavelmente, apontamos que a solução para os problemas de saúde neste município, passa pela exigencia das autoridades em resolver os problemas sociais das famílias, isto é, combatendo a miséria, aproveitando a localização estratégica devido à sua proximidade com Luanda, de forma a criar emprego. E poderia contribuir para a descentralização de Luanda, através do investimento público e privado. Estas medidas socioeconómicas irão melhorar significativamente a qualidade de vida dos habitantes de Porto Amboim, diminuindo assim, a proliferação de doenças mentais e fisiológicas.



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