Introdução á Psicologia




1.METODOLOGIA EM PSICOLOGIA

1.1 O Método da Introspecção

Como vimos na última aula, O Estruturalismo tem como seu máximo representante Wundt, que encara a psicologia, não como o estudo da alma, mas como o estudo dos processos mentais. Utilizando a introspecção controlada (ou
Introspecção na segunda pessoa) como metodologia, os fenómenos psíquicos – pensamentos, emoções e sentimentos – começam a ser intencionalmente estudados em laboratório.Esta corrente ficou conhecida como Estruturalismo porque se dedicou a descobrir a “estrutura” ou anatomia dos processos conscientes. Para compreender a fundo a estrutura da consciência, Wundt adopta uma perspectiva analítica, decompondo-a em fenómenos mais simples e estes noutros mais simples ainda até chegar às sensações puras. As sensações são consideradas como unidades
básicas que constituem todos os fenómenos.

Em que consiste , então, o método da introspecção?

A introspecção consiste num voltarmo-nos para nós mesmos e analisarmos aquilo que está dentro do nosso espírito, seja um acto praticado, um estado de espírito ou um sentimento. A introspecção é essa análise interior. Qualquer pessoa pode e deve fazer introspecção.
No entanto, o método introspectivo ultrapassa um pouco essa introspecção espontânea do ser humano, pois apresenta um carácter mais sistemático, guiado.
A filosofia, enquanto génese da psicologia, utilizava essencialmente este método, uma reflexão interior orientada pelo próprio sujeito.

Wundt foi o fundador do primeiro laboratório de psicologia, em Leipzig, pretendendo uma psicologia mais científica. Por isso criou o método introspectivo controlado (ou Introspecção na segunda pessoa) em que o sujeito é provocado, através de estímulos, e analisa e descreve o que sente. Cabe ao psicólogo anotar e interpretar o que é descrito. O objectivo é analisar a experiência consciente.

Mas este método foi muito criticado, devido a algumas limitações que acarreta:
Neste método, o sujeito é ao mesmo tempo observador e observado. August Comte, positivista, defende que é impossível ao mesmo tempo sentirmos e analisarmos com clareza aquilo que sentimos.
Diz ele: "... ninguém pode estar à janela para se ver passar na rua." Quer dizer, a tomada de consciência de um fenómeno modifica esse fenómeno.
Assim, devido ao uso do método introspectivo, considerava-se que a psicologia ainda sofria uma grande influência da sua tradição ligada à filosofia, e, por isso, ainda não era ciência.
Outro problema do método introspectivo é o facto de, nele, o paciente utilizar a linguagem verbal para explicar sentimentos, emoções e estados de espírito em geral. Ora, esta é, como todos sabemos, cheia de ambiguidades; por vezes, queremos dizer uma coisa e dizemos outra, outras nem sequer há palavras para explicar bem o que sentimos.

Por outro lado, quando o paciente explica o que sentiu, já é outro momento, pode haver distorção. Assim, diz-se que não é possível a verdadeira introspecção, apenas retrospecção. Há ainda limites na aplicação deste método. Ele não pode ser aplicado a crianças e doentes mentais que não se consigam exprimir. Tem, então, limitações sérias no campo da psicologia infantil, patológica e animal.

1.2 Método da Observação

De entre os vários procedimentos que existem ao nível do plano descritivo não á duvida alguma que a observação é o mais importante. Chamamos atenção ao facto de que a observação cientifica nãos e deve confundir com a observação que efectuamos no nosso dia-a-dia que certos pesquisadores designam por observação natural.
Em que consiste então o método da observação?
A observação, em primeiro lugar, é a concentração da atenção (órgãos dos sentidos) do pesquisador para um determinado objecto a fim de que e através de um plano previamente elaborado e concebido se possa obter um determinado conhecimento que responda à inquietação cognitiva do próprio investigador.
Em segundo lugar, a observação por ser científica permitirá ao pesquisador, não só descrever os fenómenos em estudo como também fazer com que o investigador acompanha a evolução do mesmo e, inclusivamente correlacioná-lo com outros eventos, factos, acontecimentos. No entanto, para que isso seja possível é necessária a presença de instrumentos de observação (questionários, etc.)

Tipos de observação

De um modo geral, existem dois tipos de observação, isto é, a observação directa e a observação indirecta que são diferenciados essencialmente pela forma como as mesmas são realizadas.
É assim que, na observação directa, o pesquisador apenas se apoia nos indicadores constantes no seu guião a partir dos quais e na base dos referidos indicadores vai assinalando os comportamentos, factos, acontecimentos que respondem aos objectivos perseguidos pela sua pesquisa e nela o observador encontra-se praticamente fora de todo o processo, pois ele não intervêm e nem sequer, em certa situações se apercebe de que está sendo observado.

1.3 Método Experimental

A pesquisa experimental é considerada o melhor exemplo de pesquisa científica, pois há um alto nível de controle1 da situação, podem-se isolar todas as estruturas de qualquer interferência do meio exterior, gerando maior confiabilidade em seus resultados. Mesmo assim ela é flexível, podendo dar inúmeras respostas diferentes a problemas diferentes com um único experimento. A característica principal da pesquisa experimental é o fato da variável independente ser manipulada pelo pesquisador, assim equívocos e ambiguidades praticamente desaparecem.Os três modelos mais comuns de pesquisa experimental são:• Experimentos APENAS DEPOIS: consiste em estabelecer dois grupos homogéneos, o grupo experimental e o grupo de controle. Após estimular somente o grupo experimental verificam-se as diferenças e variações entre os dois grupos, concluindo-se que a variação ocorre devido ao estímulo dado pelo pesquisador.• Experimentos ANTES-DEPOIS: estabelece-se um grupo único que é submetido à análise inicial e depois submetido a um determinado estímulo. Verifica-se a cada variação o efeito causado, concluindo se o efeito obtido altera ou não o grupo estudado.• Experimentos ANTES-DEPOIS (com 2 grupos): verifica-se o grupo de controlo e o grupo experimental antes do estímulo, então aplica-se o estímulo no grupo experimental, verifica-se a diferença entre o grupo experimental (estimulado) e o de controle (sem estímulo). A diferença entre os dois será a medida do estímulo aplicado.Assim, a pesquisa experimental tem como ser repetidamente testada e sempre com o mesmo (ou semelhante) resultado, ficando difícil surgirem respostas alternativas; as relações puras (grupos sem qualquer interferência do pesquisador) também podem ser verificadas e qualquer grupo manipulado, tanto unicamente como em conjunto.O fato de as variáveis ou grupos poderem ser analisados em ambientes programados é considerada tanto positiva quanto negativa.
Positiva devido à maior credibilidade já que a interferência do meio é praticamente nula, tendo o pesquisador total autonomia sobre seu objecto de estudo; negativa, pois, já que tirando o objecto de seu meio natural as análises serão parciais e não aplicáveis nas relações fora do ambiente propiciado pelo pesquisador.

1.4 O método clínico

A psicologia clínica define-se tendo como referência o método clínico. Este é, acima de tudo, aplicado no domínio prático da psicologia. Embora o método clínico se destine, sobretudo, a responder a situações concretas de sujeitos em sofrimento, este apenas se centra sobre o caso, isto é, a individualidade, a pessoa na sua singularidade existencial. O trabalho do psicólogo clínico apresenta como objectivo o individuo e não populações, o que implica, desta forma, que o método clínico se centre nesta dimensão, ou seja, no estudo de caso. O método clínico foi desenvolvido por Jean Piaget nos estudos que fez com os seus filhos, em consequência dos quais formulou a sua teoria sobre os estádios do desenvolvimento da criança e do adolescente.O método clínico insere-se numa actividade prática que visa o reconhecimento e identificação de determinados estados, aptidões, comportamentos e perturbações, com o objectivo de propor uma terapêutica (um tratamento, como a psicoterapia por exemplo), uma medida de ordem social ou educativa, ou até mesmo uma forma de conselho que permita uma modificação positiva do indivíduo, ou seja, é o método clínico que permite que o psicólogo chegue a uma avaliação do problema apresentado pelo sujeito e realize uma intervenção eficaz.
Este método procura recolher informações concretas sobre a pessoa que põe um problema, revelando a existência de um sofrimento. Mas, este recusa isolar estas informações e pretende agrupá-las, inserindo-as na dinâmica individual do indivíduo, como mostra o exemplo que se segue.
Uma criança de dez anos é levada ao psicólogo porque não apresenta sucesso escolar e se fecha sobre si própria. No entanto, o seu quociente de inteligência, Q.I., situa-se acima da média. O trabalho do psicólogo será então, uma vez realizada a avaliação psicológica, o de compreender se a atitude da criança apenas existe na escola e, nesse caso, analisar o que esta representa para ela, o significado que ela atribui à sua atitude e a função que este sintoma desempenha na sua vida, na sua história, na sua relação com os pais e com a escola (os professores, colegas, funcionários, disciplinas…). Esta compreensão passa pela recolha de informações junto dos pais e pelo estabelecimento de uma relação com a criança, abrindo, desta forma, o caminho a uma proposta terapêutica.

1.5 Método Psicanalítico

Freud trabalhou inicialmente com a hipnose, sob influência de Jean Charcot, mas considerou um método limitado, pois tinha resultados pouco duráveis. Abandonou a hipnose e falou pela primeira vez em psicanálise, constituindo, posteriormente, os fundamentos da teoria psicanalítica. A psicanálise é um corpo teórico de pesquisa psicológica e um processo, método terapêutico.
Como intervenção terapêutica visa "entrar" no inconsciente através de alguns mecanismos: associação livre de ideias, a interpretação de sonhos, a análise de actos falhados.º Ano Filosofia
Os sonhos têm uma grande importância para Freud. Ele define-os como a manifestação de um desejo disfarçado. É durante o sono que decorrem os sonhos. O controlo e a censura que o ego e superego exercem sobre os desejos inconscientes encontram-se atenuados. O material recalcado liberta-se e o desejo, geralmente de natureza afectivo-sexual, pode realizar-se, ou seja o inconsciente liberta-se. Contudo a censura não desaparece completamente, por isso não é fácil interpretar o sonho.
Aos lapsos de linguagem, e não só, que cometemos durante o dia, Freud atribui uma origem relacionada com o inconsciente. A análise dos actos falhados pode ser também um acesso ao inconsciente, mais concretamente aos recalcamentos.
Finalmente, pelo transfer, entende-se a transferência de emoções, agressividade, que estão reprimidas, inconscientemente, as quais eram dirigidas a outras pessoas e são transferidas para o analista.

1.6 Testes psicológicos

Para Cronbach (apud PASQUALI, 2001), um teste é um procedimento sistemático para observar o comportamento e descrevê-lo com a ajuda de escalas numéricas ou categorias fixas. Em outras palavras, um teste psicológico é fundamentalmente uma mensuração objetiva e padronizada de uma amostra de comportamento. Uma verificação ou projeção futura dos potenciais do sujeito. O parâmetro fundamental da medida psicométrica são as escalas, os testes, é a demonstração da adequação da representação, isto é, do isomorfismo entre a ordenação dos procedimentos empíricos e teóricos. Enfim, explicita que a operacionalização dos comportamentos (itens), corresponda ao traço latente.
Com base em Pasquali (2001), a história dos testes psicológicos, se destacam em sucessivas décadas, de tal maneira que é possível associar muitos autores a alguns períodos bem específicos.
A Década de Galton: 1880. Para Francis Galton (biólogo inglês) à avaliação das aptidões humanas se dava por meio da medida sensorial, através da capacidade de discriminação do tato e dos sons. Galton (apud ANASTASI, 1977) entendia que,
A Década de Cattell: 1890. Influenciado por Galton, James M. Cattell (psicólogo americano) desenvolveu medidas das diferenças individuais, o que resultou na criação da terminologia Mental Test (teste mental). Elaborou em Leipzig sua tese sobre diferenças no Tempo de Reação. Este consiste em registrar os minutos decorridos entre a apresentação de um estímulo ou ordem para começar a tarefa, e a primeira resposta emitida pelo examinando. Cattell seguiu as idéias de Galton, dando ênfase às medidas sensoriais, porque elas permitiam uma maior precisão.
A Década de Binet: 1900. Seus interesses se voltavam para avaliação das aptidões mais nas áreas acadêmica e da saúde. Alfred Binet e Henri fizeram uma série de crítica aos testes até então utilizadas, afirmando que eram medidas exclusivamente sensoriais que, embora permitisse maior precisão, não tinham relação importante com as funções intelectuais. Seu conteúdo intelectual fazia somente referências às habilidades muito específicas de memorizar, calcular, quando deveriam se ater às funções mais amplas como memória, imaginação, compreensão, etc. Em 1905, Binet e Simon desenvolveram o primeiro teste com 30 itens (dispostos em ordem crescente de dificuldade) com o objetivo de avaliar as mais variadas funções como julgamento, compreensão e raciocínio, para detectar o nível de inteligência ou retardo mental de adultos e crianças das escolas de Paris.

Katya Samuel

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