Stress e Burnout em médicos

 Katya Samuel


INRODUÇÃO 4
1.1 O Stress Numa Situação Hospitalar 5
1.1.1O Lugar da Psicologia da Saúde na Prática Médica 5
1.1.2 Noção de Stress e de Burnout 7
1.1.3 Quadro Stressores para os Profissionais de Saúde: Médicos 8
1.2 Procedimentos de intervenção para reduzir e curar o stress médico 9
Conclusões 11



INTRODUÇÃO


Justificação do tema

Este trabalho enquadra-se na Psicologia da Saúde e visa abordar a noção de stress e de todos os fenómenos com eles relacionados dentro da actividade exercida pelo médico, assim como identificar, na literatura, os modelos de intervenção, visando a diminuição do mesmo.

Importância e actualidade

Trata-se de uma problemática actual uma vez que a classe médica, dada a especificidade da sua carreira e do facto de lidarem constantemente com a vida e a morte, é muito vulnerável ao stress o que pode ter consequências muito graves para os utentes, se não houver linhas de prevenção e tratamento do mesmo.

O estudo do stress e do burnout dos médicos pode condicionar a vida desses profissionais de saúde que se podem manifestar na existência de médicos sem dedicação, que são tentados em abandonar a profissão médica e procurar outras profissões e pior que isso, o stress e o burnout pode diminuir a qualidade de atendimento dos pacientes, como reflexo da exaustão física e emocional.




Objectivo geral:

• Analisar teoricamente o stress e o burnout nos médicos

Objectivos específicos

a) Definir o conceito de stress e burnout, num contexto hospitalar;
b) Destacar os factores de risco susceptíveis de provocar o stress aos médicos;
c) Descrever os procedimentos de intervenção para prevenir e tratar do stress em contexto médico.

O presente trabalho está estruturado em dois subcapítulos; o primeiro que tem como título o stress numa situação hospitalar aborda a importância da psicologia da saúde para o médico e alguns conceitos – chave deste trabalho; o segundo que aborda a problemática da intervenção nos hospitais para tratar e reduzir o stress dos médicos.



1.1 O Stress Numa Situação Hospitalar

O stress é um problema que hoje afecta toda a vida das pessoas, independentemente das tarefas que realizam, podemos mesmo dizer que o ritmo de vida próprio do nosso tempo é também gerador de stress. É claro que nos estamos a referir do stress normal e não ao stress como perturbação psicopatológica que tem, como se sabe outras formas de manifestação. Se assim é, então podemos ver que o stress também afecta as pessoas que trabalham em instituições tal como é, por exemplo, o caso dos hospitais (enfermeiros e médicos) .

Daí que para melhor compreendermos esta situação é necessário estabelecermos uma relação entre a psicologia da saúde e o trabalho dos médicos.

1.1.1O Lugar da Psicologia da Saúde na Prática Médica

A Psicologia da saúde é uma área do saber relativamente jovem e que se vai desenvolvendo cada vez mais nos dias de hoje devido aos problemas e dificuldades que se tem posto nas unidades hospitalares quer para os enfermeiros, pessoal técnico auxiliar, aos médicos e aos próprios utentes que recorrem à prestação de cuidadas de saúde. Assim, podemos dizer que, nos dias de hoje, é muito difícil uma Unidade hospitalar realizar da melhor forma as suas tarefa se não recorrer a esta área de saber.


De acordo com Teixeira (2004) a psicologia da saúde “estuda o papel da Psicologia como ciência e como profissão nos domínios da saúde, da doença e da própria prestação dos cuidados de saúde, focalizando nas experiências, comportamentos e interacções. Envolve as considerações dos contextos sociais e culturais onde a saúde e as doenças ocorrem, uma vez que as significações e os discursos sobre saúde e as doenças são diferentes consoante o estatuto sócio- económico, o género e a diversidade cultural”.


Assim, podemos ver que a psicologia da saúde pode ajudar os profissionais da saúde e às instituições repensáveis por tal, a entender que não se pode encarar a doença,ou mesmo exigir a adesão a um determinado tratamento por parte de um paciente se não tivermos em conta as representações,derivadas de factores culturais e outros que este indivíduo tem sobre doença.



No entanto, a importância da Psicologia da Saúde para os profissionais da saúde não termina ali e toca inclusivamente a aspectos relacionados com a intervenção clínica. Diz-nos o mesmo autor que a intervenção clínica em psicologia da saúde focaliza-se em três áreas ( 1) promoção da saúde e da prevenção; (2) efeitos do stress sobre a saúde e 3) prestação de cuidados psicológicos a indivíduos com perturbações mentais.
Podemos assim dizer que a Psicologia da saúde abrange todas as actividades realizadas no hospital incluindo a preparação para procedimentos médicos stressantes.



1.1.2 Noção de Stress e de Burnout


O conceito de Stress aparece-nos mais concretamente em 1936 graças ao médico canadiano Hans Selye, que ao observar algumas manifestações anátomo -fisiológicas concluiu que as mesmas se deviam a reacções orgânicas não especificas, perturbadas por agentes stressores. O stress seria, assim, uma reposta inespecífica do organismo a qualquer tentativa de alteração do seu equilíbrio.
O stress relaciona-se em todas as situações com a ansiedade que no seu estado mais avançado é encarado como uma psicopatologia, pois segundo o DSM-IV no caso da perturbação aguda de stress verifica-se o “desenvolvimento de sintomas característicos de ansiedade, dissociativos ou de outra natureza que ocorrem no período de um mês depois da exposição a um stressor traumático externo”. Trata-se aqui de um stress patológico cujos critérios de diagnóstico podem ter em conta o facto de a duração dos sintomas se prolongar durante um determinado espaço de tempo. O stress patológico seria, assim,resultado daquelas respostas inadaptativas do sujeito face aos stressores externos.



Sintetizando o pensamento de Vaz Serra (2001) podemos dizer o seguinte: em primeiro lugar, o stress deve ser visto como resposta interna do indivíduo como acumulação de dificuldades no meio externo e sua interacção com as características de indivíduos; daí que se fale do controlo do stress, do eustress (que é saudável e desejável) e do distress (grande dor, sofrimento). De modo que o stress só é negativo se ultrapassar as capacidades de absorção do indivíduo .
Sobre o burnout, Maslach e Jackson, citados Mallar & Capitão (2004), afirmam que “(compreende esgotamento emocional caracterizado por uma falta ou carência de energia, de entusiasmo, um sentimento de sobrecarga emocional, de esgotamento de recursos) despersonalização (processo de endurecimento de insensibilidade, que se manifesta através de uma atitude fria e distante para com os colegas, mostrando-se impessoal, muitas vezes cínico) e redução da realização pessoal (uma tendência para se auto-avaliar de forma negativa, com a diminuição dos sentimentos de competência,levando-a sentir-se frustrado, inadequado, infeliz e descontente, tanto consigo mesmo como com o seu trabalho”.
Convém, no entanto, não confundir o stress com o burnout, uma vez que o stress é mais do tipo pessoal, como resposta adaptativa e que depende da personalidade de cada um, enquanto que o burnout é um stress permanente numa determinada actividade que vai posteriormente resultar no pessimismo, absentismo do sujeito numa determinada actividade profissional.



1.1.3 Quadro Stressores para os Profissionais de Saúde: Médicos



Uma das classes profissionais que tem estado muito sujeita ao stress devido às características da sua profissão é sem sombra de dúvida a dos médicos. É de referir, no entanto, que o quadro de stress para os profissionais de saúde como os médicos está associado a factores de risco. Segundo Frasquilho (2005) a “natureza stressante do exercício profissional e da formação médica aliam-se a questões de teor psicossocial e características psicodinâmicas que conduzem os indivíduos para a carreira, bem como outras vulnerabilidades que fazem do distress médico uma epidemia silenciosa actual”.
No que diz respeito aos quadros stressores Frasquilho (2005) apresenta-nos os seguintes:



Quadros stressores


Quadros Indicadores
Ideologia profissional Perfeição
Dedicação integral
Desafio permanente
Formação Rituais de passagem alterados
Exigentes e repetitivos
Expectativas /representações sociais Idealização do poder médico
Bode expiatório
Exigência de omnipotência e omnipresença
Condições de trabalho Ambientes pobres, desconfortáveis e não organizados
Baixos salários
Riscos físicos,químicos,biológicos,emocionais,violentos
Tarefa e carga física e mental Enorme carga mental
Lidar com as contingências e incertezas
Altas exigências na formação e atualização
Organização do trabalho Mudanças na política da saúde
Não participação nas decisões do topo e nas priorizações
Trabalhos nocturnos e por turnos
Conflitos com papéis familiares e sociais.





1.2 Procedimentos de intervenção para reduzir e curar o stress médico

Pela análise feita pode ver-se como é complexa a actividade de um médico e como é que ela está exposta a situações de stress e de burnout ao ponto de dizermos que neste aspecto é uma das profissões que mais se encontra em risco. No entanto, nem tudo na profissão do médico assume um carácter tão negativo, pois num estudo realizado no Brasil constatou que a auto- realização tem sido um factor que tem minimizado nos médicos o impacto do burnout.
Magalhães e Glina (2005) revelam que “o índice de Burnout em médicos só não é maior devido à existência de grande realização pessoal. Esta tem funcionado como um factor protector, impedindo que os médicos desenvolvam a doença. Embora estejam submetidos a inúmeros stressores (sobre trabalho, vários empregos, rotinas desgastantes, eles gostam do seu trabalho e dele auferem uma grande auto-realização.
Existem vários procedimentos para se reduzir o stress e o burnout em geral e que de acordo com Jesus & Santos (2004) pode passar pelo desenvolvimento de qualidades pessoais e interpessoais, através dos seguintes aspectos:


• Criar um clima de autenticidade;
• Identificar os sintomas de mal-estar;
• Identificar potenciais factores desse mal-estar;
• Identificar estratégias de coping a utilizar para superar as dificuldades;
• Substituir as crenças irracionais por crenças mais adequadas;
• Desenvolvimento de competências (gestão de atribuições, gestão de sintomas físicos, liderança, relações interpessoais, assertividade, etc.)

Importa no entanto referir que se os procedimentos acima apresentados podem ser aplicados para a gestão do stress em geral (professores, e outros profissionais, enfermeiros) existe algumas especificidades em relação aos médicos e tudo aponta no sentido de que o investimento deverá ser feito na personalidade dos médicos, pois “detectou-se que os médicos têm uma falha narcísica, um self idealizado em colisão com uma ambivalência quanto á dependência e um autoconceito imbuído de dúvida, ansiedade e auto- criticismo, que se expressa em hipercontrolo perfeccionismo (compulsividade ao trabalho) supressão de hostilidade (fraca assertividade e comportamento não pró-activo”.

É esta mesma autora que sugere que a intervenção para o tratamento do stress e do burnout para além de ter em consideração os aspectos organizacionais e institucionais,deverá apelar ao médico para:

• Discernir que há muito distress na medicina e que o médico,embora assim o seja, também pode ser doente;
• Ultrapassar a percepção da inevitabilidade dos seus modos de vida;
• Compreender e reflectir sobre o stress nos seus contextos de vida;
• Encarar a gestão do stress dentro da competência profissional e pessoal do médico.

Conclusões

Foi abordado neste trabalho a problemática do stress e do burnout no âmbito da actividade do médico que, como se viu, é o ramo profissional onde ele muito se faz sentir, acompanhando muitas vezes por altos índices de suicídios. O stress, acha-se, de um modo geral, relacionado com as repostas do organismo a situações e dificuldades do meio que tanto podem ser patológico quando o sujeito é incapaz de efectuar respostas adaptativas a tais agentes stessores. De qualquer forma, o stress nem sempre é negativo, falando-se, nesta linha de ideias do eustrees, onde o indivíduo pode gerir o stress em seu beneficio próprio.
O stress e o burnout relativo aos médicos estão particularmente relacionados com factores de índole institucional (organização do trabalho, condições de trabalho e tarefas e cargas do trabalho) e factores de carácter psicológico (Ideologia profissional, expectativas/representações sociais e formação).
Como procedimentos de intervenção para tratar e reduzir o stress e o burnout da parte dos médicos as estratégias devem assentar nos procedimentos gerais de autogestão do stress (coping, etc), mas também investir em aspectos psicológicos que se formam na classe médica (self, mudanças de crenças,etc.). Segundo Teixeira é necessária a promoção de estratégias de confronto (coping) adequadas e/ou da melhoria da utilização do suporte social, incidindo sobre o confronto com procedimentos médicos, gestão do stress, comunicação dos utentes com os técnicos de saúde e intervenção familiar”.


BIBLIOGRAFIA

DSM-IV-TR (2002). Manual de diagnóstico e estatística das perturbações mentais (4º edição). Lisboa. Editora Climpsi.

FRASQUILHO, M. A. (2005). Medicina, uma jornada de 24 horas? Stress e Burnout em médicos, prevenção e tratamento. Saúde Mental, Vol,23,nº2.

FRASQUILHO, M.A. (2005) Medicina, Médicos e Pessoas, Compreender o stress para prevenir o burnout. Acta medica, Porto. Acessado emhttp://www.ensp.unl.pt/dispositivos-de-apoio/cdi/cdi/sector-de publicações/revista/2000-2007/pdfs/2-07-2005.pdf.

JESUS, S. & SANTOS, J. (2004). Formação em gestão do stress. Revista Mal-estar e subjectividade/ Fortaleza, v.Iv7,11712p.358-371.

MAGALHÃES, R. & GLINA, D. (2006). Prevalência de Burnout em médicos de um hospital público de São Paulo. Saúde,Ética & Justiça,11 (1-2)29.35.

MALLA, S. C. & CAPITÃO, C.G. (2004). Burnout e Hardiness: um estudo de evidência de validade.Psico-USF,v9,nº1,p.19-29.

TEIXEIRA, J. C. (2004). Psicologia da saúde. Análise psicológica, 3 (XXII).441-448.

VAS SERRA, A. (2001). O stress na vida de todos os dias. Coimbra.

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